He was a boy, She was a girl, Can I make it any more obvious?

Lavigne, Avril. “Sk8er boy” LET GO, Arista Records, 2002, track 3. iTunes

Avril Lavigne anuncia aqui um óbvio em três partes: o que é um boy, o que é uma girl e algo que é suposto acontecer entre eles. Em IMPARidades tentamos obviar este óbvio porque já não nos é possível viver nessa evidência que constrange a nossa identidade individual e a dinâmica da nossa relação – quase sempre amorosa, sempre política. Lavigne participa da imortalização de um dogma (o da heteronormatividade) que é preciso cartografar, seja para o espelhar, seja para o combater. Fizemo-lo. Fomos à Bíblia, ao Aristóteles, aos textos de teatro, ao cinema, ao instagram. Amontoamos referências universais da ideia de par (quase sempre binárias), ideias conservadoras de família, ideias universalistas/capitalistas de felicidade e de amor (quase sempre poético-pirosas) e até trabalhos que nós próprios fizemos enquanto casal (nós também somos a nossa referência). O meu desejo não é meu, o cinema diz-me como desejar, somos feitos pela norma ao mesmo tempo que fazemos a norma – depois disto tudo, é possível repossuirmo-nos? Esta exposição é uma repossessão e as suas obras pequenas reordenações de realidade. Expomos, reproduzimos, aumentamos e adulteramos estes esquemas, construções mitológicas ideais, figuras arquetípicas e traumas, acrescentando-lhes possibilidades continuamente. Mas não é um novo sistema. Trocamos a cristalização da identidade (que é própria do óbvio que andamos a obviar) por uma ontologia em construção. Estamos em permanente relação com as coisas em vez de estarmos em categorização permanente das coisas.